quinta-feira, 31 de julho de 2008

Capa do Livro


Colar de estrelas
de
Ana Maria Roseira

Título : Colar de Estrelas
Autor : Ana Maria Roseira
Colecção : A Partir do Zero - 2
Revisão : Maria José Roseira
Edição, propriedade e distribuição:
lavra…
EDITORIAL
Rua Pereira da Costa, 156 - 2º.
4400 - 245 Vila Nova de Gaia
Portugal
Telemóvel : 966 238 966
e-mail : eduardoroseira@mail.pt
Capa e arranjo gráfico : eduardo roseira
ISBN : 972 - 98862 – 5 - 3
Depósito Legal : 208622/04
Tiragem : 350 exemplares






DEDICATÓRIA

A todos aqueles que, de algum modo,
me apoiaram, incentivaram e deram o seu
contributo para que este livro fosse possível.




Ana Maria Roseira
Nasceu no Porto em 1948. Viveu em Moçambique
entre 1962 e 1975 e no Brasil entre 1975 e 1983.
Vive em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia.
É co-fundadora da publicação literária
lavra… Boletim de Poesia.



__________



Abri a minha janela
e deparei com novos horizontes.
Entrou uma lufada de ar fresco…
e deixei que saísse um pouco de mim…



__________



Poeta

O poeta, é mentiroso ? . . .
Talvez ! . . .


É talvez para encobrir,
ou a verdade camuflar.
E diz coisas a sorrir,
quando algo quer ocultar.


Mente para fazer rir
e mente para chorar.
Mente no seu fluir . . .
Mente também p’ra rimar !


Mas se abrir o coração,
libertando sua mente,
asas dá à imaginação,
diz tudo aquilo que sente !




__________



Sexto sentido


Ouço as palavras mudas,
que a minha boca
não ousou dizer.

Vejo o que não existe
e que os meus olhos
não quiseram ver.

Provo o fel da amargura,
no fim da doçura
do meu bem querer.

Tacteio as flores plantadas,
que não passam de sombras,
sem florescer.

Cheiro o perfume da morte,
que quase no fim
persiste em viver.

Medito nos pensamentos,
que a minha mente
não deixou nascer.

Existo.

E por isso insisto,
na negação
de padecer ! . . .




__________



Instantâneos


Retrato 1
A idosa senhora,
sempre apoiada,
pelo corredor do “Lar”
sempre caminhava.
De um lado a bengala,
do outro a empregada.
Muitas vezes o filho,
que a visitava.
Arrastando seus pés,
teimava em arrastar
seu corpo pesado,
com passos cansados,
embalados por ela,
em suave murmúrio.

Retrato 2
Pela praça passava
velhinha senhora.
Numa mão a bengala,
servindo de apoio
à coluna vergada,
por uma vida cansada.
Na outra mão segurava,
colorido “xupa-xupa”,
que à boca levava.
Deliciava-se agora,
com o sabor que em criança não tivera.
E com doce distracção saboreava . . .

Retrato 3
Seus dedos trémulos,
deslizavam com emoção,
pelas teclas do velho piano.
Aquela senhora,
de cabelos brancos
e finas feições,
lembrava concerteza,
antigos sons,
de longínquos momentos,
da distante juventude.




__________




Maria


Lembrei-me hoje da Maria ,
que há tanto tempo a não via ! . . .

A todos ela sorria,
com olhinhos que brilhavam,
e a todos encantavam,
plenos de simpatia.

Essa pequena criança,
com toda a sua pureza,
plena de singeleza,
apesar da tenra idade,
a todos ela falava,
e a todos cativava.

Brincava com quem pudesse,
no reino do faz-de-conta.
E mantinha uma conversa,
com farto vocabulário
que, embora infantil,
era extenso e explicado.

Deve estar grande, a Maria .
Decerto, se eu a voltar a ver,
já não a vou conhecer.

Mas faço votos, Maria,
que a vida te sorria,
como sorrias p’ra todos.
Que tenhas sempre alegria,
mantendo sempre o sorriso,
não perdendo a simpatia.




__________



Colar de estrelas
(Monólogo de uma Filha)


Mãe !...
Já viste as estrelas do Céu, Mãe ?
..........................................................................
São tão lindas as estrelas !
..........................................................................
Mãe ! As estrelas são brilhantes !
..........................................................................
As estrelas parecem ser feitas de ouro,
não é, Mãe ? ! ...
..........................................................................
Ah, Mãe !
Como eu gostaria de ser grande,
alta, para poder pegar um punhado,
bem cheio de estrelas.
..........................................................................
Com as mais pequeninas,
faria uns brincos compridos, pendentes.
(Gosto tanto de brincos pendentes !...)
Com as restantes estrelas,
faria um colar.
...........................................................................
Deveria ficar bonito,
com estrelas de vários tamanhos,
não achas, Mãe ?
............................................................................
Ah, Mãe !
És tão bonita ! . . .
............................................................................
Como irias ficar ainda mais bonita,
se usasses os brincos
e o colar feito de estrelas,
que eu fiz para ti.
.............................................................................
Sabes, sobraram algumas estrelas ;
se quiseres pôr no cabelo . . .
..............................................................................
Para a Primavera, faço-te um colar de flores.
Queres ?
..............................................................................
Adoro-te, Mãe ! . . .



___________



Chegada


Conheço o som das batidas do teu coração.
Também conheço o som da tua voz,
e o som do teu riso quando estás feliz.

Conheço-te por dentro, aninhada no teu seio,
e explorando o ambiente com os meus pés.

Mas agora,... chegou a hora !

Estou ansiosa por ver a cor dos teus olhos,
ver a cor do teu cabelo e dos teus lábios,
e ver o jeitinho que fazes à boca, quando sorris.

Quero aninhar-me no teu colo,
sentir o teu abraço,
e olhar-te olhos nos olhos.

Chegou o momento de ver a ternura da minha Mamã !
E sentir a felicidade estampada no rosto do meu Papá !

É o momento de dizer :

Olá ! Estou aqui... Cheguei !...



Vila Nova de Gaia, 19/09/1999 (às 18,30 horas)

(A minha neta Ana Luísa Roseira Monteiro, nasceu às 04,25 horas, do dia 20/09/1999, no Hospital de Vila Nova de Gaia.)



__________



Mãos…


Mãos..., Que fazem o berço e aparam a criança quando nasce.
Que fabricam a cama, a mesa e o banco.
Que pregam o caixão e cavam a sepultura.

Mãos..., Que bordam o enxoval da noiva e a toalha do Altar.
Que tricotam as malhas do bebé que está para chegar.
Que tecem as mantas de agasalho e alinhavam a mortalha.

Mãos..., Que embalam o berço e cuidam da criança.
Que lavam as feridas e tratam doentes.
Que extirpam e operam cirurgicamente.

Mãos..., Que puxam o arado e lavram os campos.
Que plantam, semeiam e ceifam searas.
Que moem o trigo e amassam o pão.

Mãos..., Que apascentam rebanhos e mungem o leite.
Que vindimam as uvas e fazem o vinho.
Que colhem a fruta e cortam flores.

Mãos..., Que laboram nas fábricas e gerem empresas.
Que trabalham e sustentam as famílias.
Que limpam, lavam e cozinham.

Mãos..., Que conduzem tantas pessoas, por tantos caminhos.
Que remam e tentam chegar a bom porto.
Que apagam os fogos e acendem fogueiras.

Mãos..., Que batem, acariciam e limpam as lágrimas.
Que regem orquestras e tocam instrumentos.
Que fazem espectáculo e aplaudem.

Mãos..., Que cumprimentam e dizem adeus.
Que sabem ler “Braille” e comunicar.
Que alfabeto mudo, sabem gesticular.

Mãos..., Que ensinam e abrem horizontes em mentes cerradas.
Que escrevem palavras, agrupadas em folhas,
Que outras mãos folheiam, para as poder ler.

Mãos..., Que roubam e falsificam.
Que pedem, recebem e dão esmola.
Que fazem e que desfazem !

Mãos..., Que ferem, matam e fazem o mal.
Que se erguem, manifestam e pedem clemência.
Que se unem em prece, louvando algum Deus !

Mãos..., Suaves, delicadas, calejadas . . .
Brutas, grossas, leves e pesadas !

Mãos abertas, Mãos fechadas, Mãos certeiras. . .
Mãos lavadas. . . de pesadas culpas ! . . .
Mãos de Fada, Mãos de Artista, Mãos de Aranha . . .

Mãos . . .
Simplesmente Mãos.
Presentes na vida e na nossa lida,
muitas Mãos estão ! . . .

Mãos . . .
Quais serão as Mãos,
que virão por sorte,
e determinarão
a nossa própria morte ! ? . . .

Mãos . . . ,
Sempre muitas Mãos,
presentes estão.
Quais pontas de asas,
de Anjos benvindos,
que nos levarão.



__________




Lua


LUA em Quarto Crescente ,
qual curva foice dourada ,
em dourada seara ,
feita de Estrelas . . .



__________



Flores


Para mim, flores,
são sempre flores.
Independentemente da espécie
e das cores!

Há quem alie as flores
a muitas coisas.
Flores?
Há quem as alie aos amores,
à política...
e, vejam só!...
Quem as alie à botânica!?...
À química, perfumaria,
indo até à ervanária!...

Há quem faça gala em detestar,
certas flores,
de algumas cores... e espécies,
porque lhes fazem lembrar,
certas coisas... outras épocas...

Há quem de flores não goste,
e as arranque do pé,
pegando-as então com a mão,
jogando-as depois no chão,
p’ra melhor poder pisar.

Mas há sempre quem não esqueça,
que essas flores que uns não gostam,
outros amam como à vida.
Outros enchem de palavras,
palavras e só palavras,
a flor das suas vidas.

Para mim, flores,
não são só de Abril.
Para mim, flores,
são de todos os anos,
de todos os meses,
de todos os dias!...

Para mim, flores...
são sempre flores!...
Da mais singela,
à mais bonita, ou menos bela.
Da mais insignificante,
à mais grandiosa,
seja ela simples, ou formosa.

Quero-as de muitas espécies,
várias formas e tamanhos.
Eu quero imensas flores,
com mil perfumes no ar.
Eu quero-as de muitas cores.

Eu quero as flores no chão,
a meus pés, ao meu alcance,
onde chegue a minha mão,
colhendo-as através
da minha imaginação.

E no Céu um arco-íris,
também formado de cores,
lá no Céu, muito distante,
mas ao alcance da mão,
que seja a minha esperança,
e da criança ilusão!...



__________



Vento


Estou cansada de correr,
atrás do Vento ! . . .
Se estou prestes a chegar,
ele muda de direcção ! . . .

Chamo e pergunto :
Senhor Vento, onde vais ?

Ele me responde e me diz :
Senhora, não corras mais !
Não corras atrás do Vento.
Toma tento, toma assento,
e não olhes para trás,
que o tempo. . . não volta mais !

Apenas eu volto.
Eu, o Vento.
O Mundo inteiro vou correndo,
mas regresso ao mesmo lugar.

Não queiras o meu destino.
Porque o destino do vento,
é correr ao desatino,
suave ou desabrido,
sem nunca poder parar ! . . .

.........................................................

Senhor Vento,
que tudo vês de um mirante,
és eterno viajante,
sem precisar passaporte,
ou esperar o transporte !

Donde vens, ó Senhor Vento ?
Quais os bons ventos que trazes ?
São feitos de boas novas ? ! . . .
. . . Pois não quero que me digas,
dos estragos que causaste,
com os teus ventos mais agrestes ! . . .

Apenas quero que contes,
novidades bem fresquinhas,
dos cantos por onde andaste,
dos lugares donde viestes

E se tu trouxeres maus ventos,
quero-te fazer lembrar,
que quando por mim passares,
que o faças bem ao largo . . .
para não me derrubares ! . .



__________



Divagando no tempo


Corre, corre, tempo corre,
corre, corre, sem parar . . .
Não precisas correr tanto,
nem sequer te perturbar . . .
pois não te vou apanhar !

Mas se tu fores mais além,
passando de além-mar,
lembra-te deste alguém,
que aqui ficou a chorar,
sem te poder segurar.

Ó tempos de outras eras,
de sonhos e de quimeras,
são tempos de navegar
no Oceano do Espaço ;
desatando o teu laço,
outros sonhos alcançar.

Enquanto a alma sorria,
foi tempo de bem sonhar.
Mas ainda há fantasia,
para o sonho continuar,
se o coração pulsar !



__________



Tempo...



Não tenho tempo para viver !
Só tenho tempo, para viver a correr atrás do tempo .
E para viver a correr, a fugir do tempo .
Para ver, se corro mais que o tempo .




Só que, “atrás de tempo, tempo vem”. . .
E atrás de mim, não vem ninguém ! . . .



__________



Esta noite há batuque


África ! . . .
Moçambique ! . . .
Gorongosa ! . . .

Uma noite quente, como tantas outras ! . . .

Estava já deitada,
quando começo a ouvir
o som dos tambores,
à distância . . .

Esta noite, há batuque ! . . .

O som cadenciado,
persistente,
repetido,
ritmado,
incomoda-me ! . . .
Até me assusta um pouco ! . . .
É talvez, o desconhecido ! . . .

Afinal, a guerra,
ainda há pouco terminou
e os ódios e desejos de vingança,
ainda pairam no ar.
Mas, por outro lado,
atrai-me ! . . .
Sinto que chama por mim.

Saio da cama,
abeiro-me da janela.
E fico ali, imóvel,
por detrás das cortinas,
a escutar o batuque ,
vindo de longe . . . ,
do mato ! . . .

Parece-me que ouço
a pancada seca e ritmada,
dos pés dos dançarinos,
batendo no chão.

Pouco mais ouço.
Mas ouço ainda, o som
da minha imaginação . . .
Penso nas vozes,
nos tambores rufando,
Marimbas , com seus sons ecoando,
tirados da fruta / massala ,
já esvaziada e seca.

Corpos fortes dançando.
Mulheres / manacages 1 ,
dançando também,
embalando seus filhos,
que prendem às costas,
com coloridas capulanas.

Outras, mais jovens,
moças e muanas 2 ,
com seus dorsos nus.
E as velhas mamanas 3 ,
com os seus cachimbos,
vão tirando fumaça.

Atrevo-me a imaginar,
qual será a picada
que me leva até lá . . .

Da janela do meu quarto,
por trás da cortina,
apenas com a luz da Lua,
vejo as árvores em frente,
acenando seus ramos para mim
e dizendo baixinho:

- “Espera pouco . . . , espera pouco ! . . .”
...........................................................
Essas mesmas árvores,
também esperaram pouco,
para serem abatidas
por máquinas poderosas,
a fim de dar lugar à estrada
que levaria à cidade.

A estrada avançou.
Trouxe a civilização,
correndo sobre rodas.

Só o batuque continuou
a ecoar noutras noites,
com o seu som seco e profundo,
transmitindo à minha alma,
vestida de pele branca / mezungo 4
toda a beleza daquele Mundo ! . . .

Obrigada . . . Kanimanbo , Moçambique ! . . .

1 - Manacage - Mulher
2 - Muana - Rapaz
3 - Mamana – Mãe, mulher mais velha
4 – Mezungo – Homem / Mulher branco



__________



Beira ! . . .


Saudades ! . . .

Saudades de ti, ó Beira,
cidade de Moçambique,
em terras do Oriente ! . . .

Da vida que em ti vivi,
dos anos que já perdi,
de amigos que conheci,
alguns dos quais mais não vi ! . . .

Saudades de ti, ó Beira ! . . .

Saudades do Grande Hotel,
das tuas praias e mar,
dos Pinheiros e Palmeiras,
Estoril e Pontagea . . . ,
do teu céu e do luar !

Saudades de ti, ó Beira ! . . .

Saudades da trovoada,
do cheiro a terra molhada,
depois da chuva de Verão.

Saudades de ti, ó Beira ! . . .

Saudades do Sol-Nascer
e também das quentes cores,
na hora do Pôr-do-Sol,
mais bonitas que flores.

Saudades de ti, ó Beira ! . . .

De ti, ó terra encantada,
que estás no meu coração.
Foste por mim muito amada,
és minha por adopção ! . . .



­­__________




Sonhos trocados


Tinhas um sonho.
Correste atrás dele
e conseguiste agarrá-lo pela cauda.
Largaste tudo, para o poder segurar melhor.

Eu tinha um sonho.
O meu sonho, era composto de vários sonhos.
Mas o meu sonho . . . , não era o teu .
O meu sonho ? . . .
O meu sonho principal . . . , eras tu ! . . .

Enquanto eu pude,
tentei segurar o meu sonho.
Mas o meu sonho,
insistia em correr atrás de outro sonho . . .

Então, não tive mais forças.
Coloquei o meu sonho num prato da “Balança” .
No outro lado, coloquei uma amálgama
de amargura, desilusão e reflexão.

Ponderei, reflecti.
Vi que não alcançaria,
nem a ti, nem o teu,
nem o meu sonho.

Para que tu pudesses seguir atrás do teu sonho,
eu desisti do meu.

Enquanto tu sonhavas um ideal,
com a tua cabeça pousada em nuvens,
que às vezes, de rosa passavam a cinzentas,
eu , tinha que sonhar com a realidade bem presente,
com a cabeça nos ombros,
e os pés bem assentes no chão.

E a realidade,
que de nossa, passou a ser só minha,
pedia-me pão.

Pão para a boca,
mas fome de Amor e de Atenção ! . . .

Eu,
o meu sonho esfumado
e a minha realidade,
ficamos sós, na multidão.

Tu, conseguiste atingir o teu sonho.
Hoje, cavalgas nele.
Mas perdeste boas e maravilhosas realidades.

Eu, fiquei para trás.
Esqueci o sonho ! . . .
Vivo com as realidades que tu não quiseste,
nem soubeste partilhar !

Nem imaginas o que desperdiçaste ! . . .

Deita-te com o teu sonho . . . e descansa em Paz ! . . .



__________



Soneto do amor e da vida


Flor da Primavera, tu já não és.
Secaram no Verão teus verdes anos,
Alguns, feitos de cegos desenganos,
Descobertas de mundos e marés.

Cessaram as esperanças e tormentos.
Cessaram ilusões e a paixão,
Que preencheram o teu coração,
E o fez vibrar de amor e de lamentos.

E se no teu amor feito loucura,
A seiva na raiz já te secou,
Podes dizer adeus à desventura.

A saga da paixão já terminou.
Ficou recordação, feita doçura,
Nova etapa na vida começou.



__________



Porto e Gaia


Vejo o meu Porto sentido
e com ar embevecido,
olhando de mil janelas.
O meu Porto encantado,
cada dia com seu fado,
nas ruas e nas vielas.

Vejo o Porto enamorado
e com ar de encantado,
pela sua amada Gaia!
Sob um Sol radioso,
olha-a malicioso,
antes que a noite caia.

Esse namoro tão terno,
que é constante e eterno,
Gaia o aceita com graça.
E, como o Porto está perto,
dá-lhe um sorriso aberto
e com ternura o abraça.

Miram-se vaidosos,
alegres e radiosos,
nas águas douradas do rio.
E aproveitando as pontes,
que de amor lhes dão mil fontes,
abraçam-se em doce estio!



__________



Gaivotas à Beira-Rio


O Sol nasceu cedo,
e brilha no horizonte.
O Céu, apresenta-se
dum azul sem mácula:
o chamado, “azul-céu” !

No rio, as águas têm brilho
reluzente como estrelas,
reflexo da Estrela-Mãe, o Sol.

A corrente das águas,
desliza em doce calmaria,
não tendo pressa de chegar
ao encontro, marcado
com as águas salgadas da Foz,
misturando-se com o Oceano.

As gaivotas, muitas gaivotas,
misturam-se na paisagem !

As gaivotas, barulhentas,
não se cansam de voar.
Parecem todas contentes,
pois não param de grasnar.

As gaivotas, brincalhonas,
não se cansam de brincar.
Na superfície das águas,
elas gostam de boiar.
Parece que estão sentadas
e então... se deixam levar.

O rio também coopera,
parece que também quer
na brincadeira entrar.
E, com a sua corrente,
as ajuda a navegar.

Fazem lembrar uma armada,
daquelas que já lá vão !
Com suas asas abertas,
a simularem as velas
de antigas caravelas,
da velha navegação !

Não é tudo brincadeira,
pois têm que trabalhar.
O peixe não cai no bico . . .
têm que o saber pescar !

As gaivotas, tão felizes
com este dia sem par,
a Natureza tão bela,
parecem querer saudar!



__________



Amor platônico


Amor tu provocaste, sem saber,
Apenas com o brilho do olhar,
Qual contas reluzentes a brilhar,
Teus olhos por ti falam, sem dizer.

Na tua boca sorriso a condizer,
Que tem feito mil beijos desejar,
Platônicas paixões a despertar ;
Nada fizeste, para acontecer ! . . .

Nos teus olhos, um brilho transparente.
Nos teus lábios, sorriso de mistério.
Para alguns, um mundo de ilusões,

Para outros, suave refrigério.
Sem querer, animaste corações,
Sem querer, te fizeram tão carente.



__________



A filha do rei das sereias
A Manuel Bandeira


Contam que o rei das sereias,
Por maldade e teimosia,
Ao querê-las castigar,
Mandou transformá-las
Em espuma do mar.
Mesmo que, para isso,
Sua filha tivesse que sacrificar,
Atirando-a para o fundo do mar.

As sereias entenderam,
Que a malfadada princesa,
Tinha um bom coração
E não perdia em beleza.
Pai tão malvado não merecia,
E no mar não morreria.

A princesa, coitadinha,
Desfazendo-se em mil ais,
Foi levada em doce canto,
Para o palácio das sereias,
Feito em douradas areias,
Bem lá no fundo do mar.

O pranto dela secaram,
Em sereia a transformaram,
Fazendo dela rainha.
Manto de estrelas teceram,
Coroa de algas fizeram,
Com pérolas e corais.

Quanto ao rei, foi castigado,
Pela maldade cometida.
Por tantas atrocidades,
Que ele praticou contra a vida.

Pelo mar foi rodeado,
Por ondas amordaçado,
Em rochedo transformado.
E sua alma traiçoeira,
Pela espuma foi lambida.

O rei rochedo,
Tardiamente arrependido,
Chora até hoje,
Lágrimas de espuma salgada.

E, com olhar vago e triste,
Perdido na imensidão do mar,
Fita as águas, sem cessar,
Na esperança de nelas ver surgir,
A sua filha mal amada,
Mas que foi abençoada,
E que, com o passar do tempo,
Lhe soube perdoar.

De quando em quando,
Ela vem-lhe sorrir,
E abraçar. . .

Contaram-me outro dia,
Em jeito de confidência,
Que a princesa sereia
Em linda mulher se transforma,
Em noites de lua cheia.

E alguém a viu chegar,
Quando o pai foi visitar,
Com uma pequena sereia,
Que a vinha a acompanhar ! . . .




Nota 1 : Versos inspirados no poema “Balada do Rei das Sereias”, do poeta brasileiro Manuel Bandeira, in Lira dos cinquent’anos, que pode ser lido no fim.



__________



Amores de marinheiros


Com amores de marinheiros,
são tristezas e folias,
ao tê-los por companheiros,
são cheiros a maresias.

São folguedos e saudades,
são preces no alto-mar,
são sonhos e liberdades,
são mentiras e verdades,
na ternura de amar.

Ó marinheiro !
forte, altaneiro,
foste o primeiro
do meu querer.
É com saudades,
dor e paixão,
que tu me invades,
o coração !

Há marés e marinheiros,
há ventos e tempestades.
Há barcos e estaleiros,
onde ficam as saudades.

Há no mar certas marés,
onde espreita o perigo.
ondas que varrem convés,
com vagas de lés a lés . . . ,
mas há portos de abrigo ! . . .



__________



Voz de fado


Quando o Hilário cantava,
Sua voz acompanhava
Dos sons de uma guitarra,
Incrustada de marfim.

Quisera eu, que algum dia,
Tivesse por companhia,
Alguém feito cotovia,
Que cantasse para mim.

Com uma voz bem sonora,
Cristalina e bem possante,
E sempre, a qualquer hora,
Do fado fosse um amante.

Com trinados, choradinho,
Cordas vocais afinadas,
Pondo alma e carinho,
Nas violas e guitarras.



__________



Fado lembranças

1 - Umas coisas, esqueci
e outras, já não me lembro.

Se a memória perdi,
fiz também por não lembrar.

Aquilo que já lembrei,
faço por não recordar.

Aquilo que ainda sei,
eu não quero mais pensar.


2 - Meu coração não te ouço,
não sei se podes amar.

Não sei se te quero ouvir,
ou se te quis escutar.

Não me lembro se te ouvi,
se algum dia te escutei.

Esqueci o que perdi,
esqueci...o que encontrei.


3 - Não quero lembrar o mal,
nem do bem a nostalgia.

O coração não esquece,
aquilo que o cego via.

Mas minha mente me nega,
o que a alma transparece.

Se recordar é viver,
eu vivo...para morrer!...

Se viver é recordar,
eu faço...por não lembrar!...

Esqueço que já vivi...
e não lembro...que esqueci!...



__________



Aparências


Da lágrima, faz um sorriso.
Do sorriso, faz escudo.
Da frieza, carapaça,
por onde destila o fel.



Mas é tudo uma trapaça !


Pois, debaixo da armadura,
sem aquela máscara dura,
é tão doce como o mel . . .



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Guerra Santa


Guerra Santa ! ? . . .

Onde há Santidade,
numa guerra
sangrenta,
negra,
fria,
cruel ! ? . . .

Semeia a morte,
onde havia flores.
Gera má sorte,
tragédia e horrores.
Fertiliza com ódio,
onde houve amores.

Injustamente . . . ,
pretende acabar com a injustiça . . .
Põe de rastos
o que estava de pé.
Mina e rói,
rega com sangue,
ceifa e destrói,
até ficar exangue.
.........................................................
Afinal, onde está a “Santidade” ? ! . . .

- deve estar Deus a perguntar,
ao seu Conselho
de Presidentes e Ministros,
promovidos a Santos, Anjos e Querubins,
armados em Reis e Senhores do Mundo,
(mesmo que, para o colocar bem fundo
e fazê-lo imundo),
reunidos em privada Cimeira
(mesmo aqui à beira . . . ) ,
numa Assembleia decorada
a dourado ouro . . . ,
a “ouro negro” . . . ,
a veludos e cetins ! . . .



__________



Felicidade . . . , essa utopia! . . .


Onde estás, felicidade ?
Porque te afastas de mim ?
Será que alguma vez eu te conheci ? . . .

Ou, serás apenas,
uma palavra inventada pelo ser humano,
na ânsia da procura do inatingível;
um sonho para os sonhadores;
uma ilusão para os poetas;
uma esperança para os desiludidos.

Uma utopia.
Um ideal cheio de fantasia,
criado na imaginação dos loucos,
como eu e tantos outros,
que alimentamos a nossa loucura,
de outras tantas quimeras,
imaginadas por outros loucos, como nós.

Mas, se sonhar é ser louco,
também faz parte da vida.
E, neste mundo louco,
cada vez mais doido,
cheio de ódio, de rancor e de mentira,
então..., eu quero sonhar.
Sonhar que sou feliz,
que tenho Paz, Saúde e Alegria.

Pode ser que, talvez, tudo ao meu redor,
transpire fantasia.

E, ao ouvir os outros murmurar,
que eu sou louca,
prefiro deixá-los passar
e dizer para mim mesma . . .
que continuo a querer sonhar ! . . .



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Aquário . . .


Jarra moderna, em vidro transparente,
Em moderno aquário adaptada,
Com conchas e areia não poluente,
Lindo peixe no meio navegava.

O peixe tropical, resplandecente,
Fulgurante de cor, policromada.
Verde alga, de brilho reluzente,
Por cristalina água conservada.

Não possuía outros navegantes,
Aquele vaso de forma exótica.
Conchas e peixe de flutuar estático,

Eram os seus únicos ocupantes.
Dava-nos bela ilusão de óptica !
Fui ver. O peixe . . . era feito de plástico ! . . .



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Marias


Lá vai Maria, lá vai…
Vai Maria, vai e vem.

Lá vai ela, vai cantando,
como uma cotovia.
Lá vai ela, vai cedinho,
vai lavar roupa no rio

Lá vem Maria, lá vem.
A rodilha na cabeça,
onde carrega o seu cântaro.
Foi à fonte, água buscar.

Lá vem ela, remexendo suas ancas,
com pressa, mas cuidado,
para a bilha não quebrar.

Acende o lume, Maria.
Teu homem está a chegar.
Tens o caldo para fazer,
o pão no forno a cozer,
para lhe dar de jantar.

Vai Maria, vai passando.
Com essa enorme barriga,
um filho está esperando.
Para juntar ao outro,
que ao colo vai carregando.

E o tempo passou!...
Lá vai…lá foi!...

A Maria teve filhos, mais e mais…
Envelheceu e engordou.
Até que enfim, teve netos.
…………………………………………
Ficaram outras Marias,
que também vêm e vão.

Já não levam cantarinho,
e à fonte já não vão.
Têm água canalizada…

Do rio, com peixe morto,
não querem sequer o cheiro.
Têm máquina de lavar,
uma arca com congelados,
e comida pré-cozinhada.
É mais rápido, mais fácil,
servir assim o jantar.

As conversas na fonte e no rio,
com as outras Marias,
deram lugar ao sofá,
à T.V. e à novelas,
talvez … “as da vida real”…

Cantar pelo caminho?
Não, que parece mal.
É pimba!
Preferem fazê-lo em “play-back”,
ou então no “karaoke”!

Ir a pé? Nem pensar.
É cansativo.
“Jogging”, é para os tempos livres.
Têm o seu carro, comprado a prestações,
ou ganho nalgum concurso.

Rodilha na cabeça?
Também já não precisam.
É mais útil o “air-bag”,
com que o seu carro está equipado.

E lá vão elas, lá vêm,
na corrida contra o tempo,
de casa para o trabalho,
passando pelo Infantário.

E o tempo passou!...
Lá vai…lá foi!...

E então, outras Marias,
passaram a ser Avós.
………………………………………………..

Repete-se o ciclo.
Apenas muda a tecnologia,
Fruto do progresso.

Maria vai, Maria vem…



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Palhaço


Palhaço !

Quem és tu, palhaço,
debaixo dessa máscara,
por baixo dessa pintura ?

Elevas a tua voz !
Será para conter
o que te vai no peito
e na alma ?

Qual a dor que escondes,
camuflada por esse teu sorriso ?

Quais os gritos que abafas,
com essa sonoras gargalhadas ?

Quais as tristezas que encobres,
atrás dessa alegria simulada ?


Palhaço !

Afinal . . . , quem és tu ?

Levas a vida a sorrir ?
Ou fazes dela um sorriso ! ?

Levas a vida a brincar ?
Ou a vida brinca contigo ?

Rimos de ti, palhaço !
Não é isso que tu queres?

Fazes de ti palhaço ! . . .

Ou os palhaços somos nós . . .
na palhaçada da vida ! ? . . .



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Santos populares


O São Pedro e São João,
a Lisboa foram ter,
deitaram ao ar um balão,
depois ficaram a ver.

Santo António, em Lisboa,
com marchas a desfilar ;
passaram uma noite boa,
a comer e a dançar.

Foi a vez de Santo António,
ao São Pedro se juntar.
Vieram tocando harmónio,
p’ra São João festejar.

Todo o Porto fica em festa,
no Bonfim, Gaia, Ribeira . . .
não há festa como esta,
move a região inteira !

Pularam uma fogueira,
cheiraram um manjerico,
arranjaram mais madeira
e foram para o bailarico.

Com alho porro e a martelar,
toda a noite assim andaram,
a cantar e a brincar,
só de manhã descansaram.

Passados dias então,
do São Pedro foi o dia.
Santo António e São João,
juntaram-se para a folia.

Foram até à Afurada,
que é terra de pescadores,
comeram uma sardinhada
e também outros sabores.


Viram o fogo tão belo
e a Igreja iluminada
que, de aspecto singelo,
pelo povo é festejada.

Alguém ouviu comentar,
que o nosso São João,
de todos é popular
e também mais folgazão.

Santo António é Milagreiro,
também aos peixes pregou,
das noivas é Padroeiro
e pelo Mundo andou.

O São Pedro, pescador,
primeira pedra da Igreja;
desta ele foi fundador,
chaves tem p’ra que se veja.

E as festas terminaram,
dos três Santos populares.
Só então eles descansaram
e foram para os Altares ! . . .

Tanta festa eles tiveram
e os foguetes foram tantos,
fizeram o que quiseram
mas continuaram Santos ! . . .



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Descanso eterno


Se algo acontecer,
deixai-me ir,
sem muito sofrer.

Se do outro lado,
eu puder dormir eternamente,
na serenidade, na calma e na Paz,
sem me poder lembrar
do que deixei para trás,
sem nada acontecer,
no nada que eu sou,
talvez então eu seja feliz ! ? . . .
............................................................

Ou, no nada, nada sinta.
E então aí, que importa ? . . .
.............................................................

Apenas pergunto:

E para lá do nada, o que existe ?

Quando nos meus sonhos,
aparentemente tão reais,
essa pergunta te fiz,
não obtive resposta.
Apenas fugiste . . .



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Viver


Devíamos ter duas vidas.
A primeira para aprender,
e a segunda seria,
para então, poder viver!



Mas ainda haveria,
tempo para correcções.
O tempo não chegaria,
para termos ilusões!...



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Fazer um poema


Fazer um Poema,
altas horas,
madrugada.

Lembrei-me de algum tema,
mas eu não pretendo nada...
Quero descansar,
dormir ! . . .


Mas minha mente desperta
e descanso não me dá.

Tenho mesmo que escrever,
tem que ser agora,
já ! . . .


Minha mão pega a caneta,
pelo papel rodopia,
numa valsa sonolenta,
numa dança de ir e vir.


Já terminou o poema !

E agora, sossegada . . . ,
posso então já ir dormir ! . . .



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Papel e lápis, não deixem que me falte!


Dêem-me papel e lápis,
caneta e tinta, tanto faz!...
Mas peço que não me falte
algo com que escrever,
enquanto a vida durar.

Quando isso me faltar,
ou capacidade de o fazer,
estou pronta para morrer!

Lembro-me muito bem,
que muito criança ainda,
não sabia escrever nada,
nem sequer na Escola andava,
mas, quando a passeio ia,
com a Mamã ou com a Vóvó,
na carteira que eu usava,
um lenço nunca faltava.
Mas também, sempre estava,
um pedaço de papel
e um lápis já bem gasto,
pequenino como eu.

Garatujos eu fazia,
com letras os comparava
e ficava convencida,
que algo significava!

Cedo eu quis aprender
e soube-o manifestar.
Queria ler e escrever,
Era como respirar!...

Onde eu estiver,
papel e lápis não deixem que me falte!
Caneta ou tinta, tanto faz.
Eu..., preciso de escrever!!!..

Para arranhar no papel
pedaços de solidão,
de carinho, amor, paixão,
ou de dor e amargo fel;
o que me vem à cabeça,
o que me brota da alma,
não importa o que aconteça...
se estou em tormento, ou calma!...

Na alegria ou na tristeza,
com lágrimas ou com sorriso,
se estou feia ou em beleza,
com juízo ou pouco siso.

Eu quero encher o papel!
Uns esboços vou tentar.
Palavras doces de mel,
ou desenhos desenhar.
Enchê-lo de gatafunhos,
sujá-lo de escuros riscos,
vou fazer uns garatujos,
ou suaves sarrabiscos.
Letra bem feita, ou horrenda,
bem escrita ou apressada,
não vou levar reprimenda
se não for muito cuidada.

Se eu desaparecer
e meu rasto não deixar,
o que têm a fazer,
é meus papéis procurar!...

Eu quero encher o papel!
Que não me falte a caneta!...
Palavras de mel ou fel,
vou borrifar p’ra a etiqueta!

Oh !... Acabou !...
Não me faltou a caneta...
mas terminou o papel !!!...



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INDÍCE

3 – Dedicatória

5 - Abri a minha janela…
6 - Poeta
7 - Sexto sentido
8 -Instantâneos
9 - Maria
10 - Colar de estrelas (Monólogo de uma filha)
11 - Chegada
12 -Mãos
14 - Lua
15 - Flores
17 -Vento
19 -Divagando no tempo
20 -Tempo
21 -Esta noite há batuque
24 -Beira ! . . .
25 - Sonhos trocados
27 -Soneto do amor e da vida
28 - Porto e Gaia
29 - Gaivotas à Beira-Rio
31 - Amor platônico
32 - A filha do rei das sereias
34 - Amores de marinheiros
35 - Voz de fado
36 - Fado lembranças
37 - Aparências
38 - Guerra Santa
39 - Felicidade . . . essa utopia ! . . .
40 - Aquário . . .
41 - Marias
44 - Palhaço
45 - Santos populares
47 - Descanso eterno
48 - Viver
49 - Fazer um poema
50 - Papel e lápis, não deixem que me falte !

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NOTA FINAL: A criação deste blog é a forma que a autora entendeu ser mais abrangente e logicamente menos onerosa de fazer uma “segunda edição”. Por tal, apenas serve para publicar através das novas tecnologias o livro que foi editado em papel em 2004 e da parte do autor terá um ponto final. Quem pretender, pode copiar, publicar e fazer uso destes poemas, desde que fazendo sempre referência ao autor e editor, sem ter que pagar quaisquer “direitos de autor”. Por tal, apenas solicito que me informem sempre que publiquem ou façam um link deste “blogbook”, podendo fazê-lo para o seguinte e-mail: a.m.roseira@gmail.com.

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1 – Este é o poema que serviu de mote à autora, que de certa forma no seu poema “A filha do Rei das Sereias”, dá continuidade à história escrita pelo poeta brasileiro Manuel Bandeira em:

BALADA DO REI DAS SEREIAS


O rei atirou
Seu anel ao mar
E disse às sereias :
- Ide-o lá buscar,
Que se o não trouxerdes,
Virareis espuma
Das ondas do mar !

Foram as sereias.
Não tardou, voltaram
Com o perdido anel.
Maldito o capricho
De rei tão cruel !

O rei atirou
Grãos de arroz ao mar
E disse às sereias :
- Ide-os lá buscar,
Que se os não trouxerdes,
Virareis espuma
Das ondas do mar !

Foram as sereias,
Não tardou, voltaram,
Não faltava um grão.
Maldito o capricho
Do mau coração !

O rei atirou
Sua filha ao mar
E disse às sereias :
- Ide-a lá buscar,
Que se a não trouxerdes,
Virareis espuma
Das ondas do mar !

Foram as sereias . . .
Quem as viu voltar ? . . .
Não voltaram nunca !
Viraram espuma
Das ondas do mar.

MANUEL BANDEIRA, in “Lira dos cinquent’anos”.